Crystal
Eu não gosto de sentar no banco do meio em aviões. Minhas
pernas longas nunca encontram espaço suficiente e me sinto como se estivesse
enjaulado. Mas, num domingo, sentei-me ao lado de Crystal e ela me proporcionou
uma das viagens mais agradáveis da minha vida.
"O vôo deve estar lotado", pensei comigo enquanto
me espremia no assento “E” do vôo Delta 585, de Portland, Maine, para Boston. O
assento da janela estava desocupado – e convidativo. Mas pouco antes de
decolarmos, um homem apressado entrou no avião com uma menininha. Mostrou a ela
o assento em que ela deveria ficar. "Dá um beijo no papai", disse
ele, e foi embora.
Crystal.
Ela tinha cinco, talvez seis anos. Usava um vestido branco
com fitas roxas. Tinha cabelos escuros longos e um olhar triste. Segurava um
sacolinha com bonecas e livros.
Crystal colocou o cinto de segurança. Então começou a
prender suas bonecas também sob o cinto.
Qual é o nome dela? Perguntei, apontando para uma boneca
rosa.
"Pantera". Ela respondeu.
"É claro. A Pantera Cor de Rosa".
"Eu também tenho alguns livros." Ela abriu a bolsa
para mostrá-los. Foi quando vi o nome dela escrito em letras grandes e
disformes: CRYSTAL.
"Você sabe ler, Crystal?"
"Não. Ainda sou muito pequena para ler.
Agora as rodas do avião estavam correndo mais e mais rápido
e os motores rugiam alto, em poucos momentos estávamos nas alturas.
"Olhe aquele grande lago lá em baixo – que lago
enorme!", disse Crystal.
"Aquele é o oceano, Crystal."
Então conversamos sobre os navios abaixo e as nuvens.
Crystal me contou que morava na Georgia, mas sempre passava as férias de verão
com o pai, no Maine. Tomei um dos seus livros e li histórias para ela. Quando
menos esperava as rodas do avião tocaram a pista do aeroporto Logan de Boston.
Peguei meu casaco e minha mala e comecei a seguir o meu
caminho pelo corredor. Olhei para trás e vi a menininha vestida de branco com
fitas roxas. Tinha um olhar muito triste. Ela acenou para mim.
Crystal.
De repente, senti raiva. Senti raiva por uma garotinha
precisar viajar centenas de quilômetros, a cada verão, para ver o pai. Fiquei
com raiva por ela ter a companhia da mãe apenas parte do ano, e ter a companhia
do pai também apenas parte do ano. Após ter conhecido Crystal, eu poderia
facilmente me tornar um ativista em prol dos direitos das crianças.
Crystal não pediu para nascer. Crystal tem direito a uma
casa onde ela possa ser amada por ambos os pais e não tenha que ficar andando
de avião para lá e para cá sozinha.
Cristãos, vocês estão ouvindo?
Autor: William G. Johnsson
ORAÇÃO
Tem misericórdia dos filhos do divórcio, Senhor. Mostre a
eles que, apesar de tudo, são pessoas de valor! E mostre a nós, adultos, que
podemos ser mais responsáveis.
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